terça-feira, 13 de março de 2012

o desejo do verme

A Corpo Editorial promove a exposição o desejo do verme no Memorial Meyer Filho, em Florianópolis, juntamente com o lançamento da segunda edição da revista Bolor de título homônimo no dia 21 de março, às 19h00.
Ambos, exposição e publicação, ganharam vida a partir da expressão “desejo do verme”, originalmente “desejo da larva” usada pelo psicanalista Lacan. Retirada do seu contexto, a expressão foi oferecida aos artistas como imagem verbal: desejo do verme, como fermento para fazer crescerem ideias, desejos, vontades, tendências vocações para uma só coisa: arte, que reunimos tanto na exposição quanto na publicação.
Participam tanto da publicação, quanto da exposição, os seguintes artistas: Aline Dias, Adolfo Emanuel, Adriana Barreto, Ana Lucia Vilela, Augusto Benetti, Bil Lühmann, Diego Rayck, Elke Coelho, Julia Amaral, Maíra Dietrich e Raquel Stolf.
Do pretensamente espúrio e baixo desejo do verme, foram várias as contribuições dos artistas para esta exposição que abriga vários gêneros de expressão artística, várias delas ainda sem classificação nos gêneros tradicionais (pintura desenho escultura gravura) ou contemporâneos (site specific, instalação, proposição, performance, etc).
Será auspicioso comparecer e divulgar!


Sobre a Corpo Editorial – curadora da exposição

A Corpo Editorial é muita coisa e não é nada. É um grupo de amigas e amigos que se juntam com a finalidade nobre de falar bobagens tendo como facilitadores bebidas e comidas e mais amigos e.... e..... É uma editora de catálogos de arte que não gostam de ser catálogos, tais como Notebook c. asp (2008) e Cadernos de Desenho (2011). É uma produtora/diretora de filme - por enquanto um único: ASP.DOC – cheia de desejos de outros (filmes). É editora da Revista Bolor que gosta de ser arte na forma de revista. É curadora de exposições, entre elas, Cadernos de Desenho e o desejo do verme. É mais e menos.
A corpo editorial gosta de labuta e gosta de festa. Gosta de arte. Tem como participantes constantes Aline Dias, Diego Rayck, Ana Lucia Vilela e Julia Amaral. Tem participantes outros, adorados, que vêm e vão. Não compartilham de todos os projetos mas nos fornecem constante e preciosa nutrição.


Sobre como a Corpo Editorial convidou os artistas
Simplesmente enviando-lhes um e-mail reproduzido, parcialmente, a seguir:


o desejo do verme
nossa proposta parte dessa imagem (o desejo do verme) para articular alguns conceitos que nos interessam e que nos parecem estar presentes na pesquisa de artistas com quem temos afinidades (artisticas e sobretudo afetivas).
comecamos com uma ideia da ana, a partir de lacan, e que ela (ironica e muito apropriadamente), não lembra em que texto está... a partir de umas tantas conversas, começamos a listar alguns aspectos dessa imagem:
o verme não tem esqueleto, nem uma estrutura óssea, nem membros. de uma designação imprecisa e em desuso da zoologia, o termo se refere a todos os animais alongados de corpo mole. o verme toca com todo o corpo a superficie por onde se desloca. ele se move assim, por contato e fricção. alguns nao possuem movimentos proprios. o verme não fica de pé. está proximo as coisas do chão. ao que é baixo, insignificante, abjeto, desprezível. ou imerso em um outro organismo, como um parasita. ou ocupado na tarefa de decomposição de outros organismos. o verme não tem cérebro. o cérebro todo é a pele. uma epiderme debilmente pensante. o verme também não costuma ter olhos. cego e acéfalo, ele rasteja. é normalmente pequeno, quase invisível. e, o mais importante, diferente de uma larva, a condição de verme não é temporária. não é um estagio ou fase. o verme não vai se transformar em uma borboleta. ele vai ser sempre verme. e o verme deseja. e o desejo do verme, como qualquer desejo (ou talvez mais do que qualquer um), é instável. é perecível, poroso. se transforma.
(...)
Não estamos pensando em trabalhos que pensem o verme literalmente, mas que partam de alguns desses aspectos para formular um (ou vários) desejos do verme.
por isso, convidamos vcs a pensar numa proposta de trabalho (ou melhor, duas, uma para o formato exposição e outra para a publicação (uma mini-bolor hecha a mano)
(...)
era isso


PS: Os artistas aceitaram.


Sobre a Segunda Edição da Revista Bolor
Que o verme, este ser ao mesmo tempo repugnante, geralmente diminuto, e acéfalo possua desejos esta é nossa questão, nosso desejo. E tão diminuto e mesquinho talvez nos pareceu ser este desejo que o formato da revista deveria lhe corresponder em miudeza. Sendo 10cm x 7cm suas dimensões, os desejos do verme, fizeram-se aí caber.


Sobre o dinheiro – ou dos hábitos dos artistas
Parece que não é de conhecimento de todos os seres humanos que os artistas comem (por conseguinte, cagam, logo exigindo um sistema de esgoto apropriado), têm o hábito de morar em casas ou apartamentos, tomam, em sua maioria, banhos diários, por vezes reproduzem, etc. Sendo assim, precisam, como todos os humanos neste planeta e neste sistema de organização social, trabalhar (exceto os que nasceram ricos, que são escassos) e, pasmem!, serem remunerados por seus trabalhos a fim de manter tais hábitos primitivos (ainda não desenvolvemos a capacidade, assim como o resto da humanidade, de viver da luz solar).
Os artistas (assim como as participantes da Corpo Editorial) não receberam nenhuma remuneração e, por esta capacidade de doação ao público e à arte, os agradecemos muitíssimo. Que esta doação como tal seja vista, e não como uma obrigação inerente à profissão do artista.